quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Loucuras de uma senhora descontrolada


Deus! Abri a maldita carta e me deparei com, o que? Novecentos reais? Que absurdo! Uma senhora idosa e viúva não deveria ter que pagar toda essa grana para sustentar uma bosta de político que era o prefeito. A partir dos sessenta e cinco anos já se era insento da passagem de ônibus, deveria ser das contas e impostos também.
Não passo de uma humilde senhora, pobre e viúva. Recebo apenas uma mísera aposentadoria. Filho-da-puta, desgraçado, viado. Isso não vai ficar assim, vou acabar com a raça daquele cachorro.
No caminho da prefeitura só pensava nos possíveis palavrões que diria para aquele vagabundo.
Ao chegar, podia sentir meu corpo queimando, minha cabeça saia fumaça, minha boca falava sem que eu mandasse. Fui atendida primeiramente por uma estagiária mal-educada que foi logo dizendo pra procurar outra pessoa, pois ela era apenas uma “burra” estagiária e não saberia me responder. Que odio dela!
Mandou-me para a Central de Informações. Fui até lá, ainda tinha paciência para isso. A atendente olhou a correspondência e me mandou para a secretaria. Fui logo dizendo: -Tá achando que tô aqui fazendo "tour" pela prefeitura? Ela fingiu que não ouviu.
Fui pra secretaria, onde a recepcionista, a única pessoa educada e sensata naquela maldita prefeitura, observou a correspondência e achou um absurdo. Concordou comigo plenamente. Mas tadinha, não podia fazer muito por mim, me mandou para a acessora do prefeito.
Esperei horas para ser atendida e quando fui a ignorante me fez esperar mais para ver o prefeito.
Ela, enfim, me chamou. A hora havia chegado. Estava preparada pra tudo. Entrei e ele foi muito educado comigo até que eu lhe falasse o assunto. Notei indiscretamente a careta do maldito prefeito.
Ele olhou para a carta e depois pra mim e disse: - Qual o problema? Filho-da-mãe, pensei. Mandei a bolsa nele até que ele caísse no chão gemendo. Estava esgotada. Larguei o retardado estirado no tapete e sai da prefeitura.
Achei por um instante que fosse desmaiar, ou até infartar. Mas antes acabaria com a reputação daquele político mau-caráter.
Avistei um repórter fazendo uma notícia qualquer. Contei a ele, pediu meu nome e começamos a entrevista. Mais parecia Linha Direta.
Chinguei todos os nomes em rede nacional, quando o repórter me chamou insistindo e perguntou novamente meu nome. Eu lhe disse. Ele então me mostrou a carta e o nome era outro, parecido mas outro.
Que vergonha! Tudo estava explicado! Tudo!
Senti o mundo rodar, a vista escurecer, mas antes que desmaiasse ouvi o repórter dar a nóticia: -Senhora descontrolada espanca prefeito a bolsadas e depois descobre que não passava de um engano.
Quando acordei estava no hospital público. Do meu lado uma cara inxada e roxa, com um dos braços engessados. Era o prefeito. Ele disse que me desculpava pelo acontecido e que daqui para frente eu não precisaria mais pagar nenhum imposto. Não disse nada.
Ele então saiu mancando.
Pensei, da próxima vez meto mais porrada, quem sabe ele não me libera das contas e até do dízimo da igreja?

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