domingo, 15 de março de 2009

Conclusões de um piloto


- Desce!

É engraçado você observar as pessoas, principalmente quando você trabalha tão próximo a elas.

Eu sou, como muitos definem, o rapaz do elevador, mas na verdade eu sou um piloto oficial do transporte público vertical de passageiros; muito bem treinado por sinal. Minha função é transportar pessoas e seus respectivos pertences com segurança e rapidez.

Durante a realização da minha tarefa eu observo, analiso os vários tipos físicos e psicológicos que adentram minha máquina de trabalho. É hilariante.

- 7º andar. Por nada senhora, tenha um bom dia!

Existem aqueles que logo que entram se sentem em casa, sozinhos, relaxados. Logo começam a falar com o espelho. “- Nossa ein! Você tá muito gata hoje! - Minina, hoje você está no auge! – Nossa! Pego fácil, miau!” Logicamente, me sinto constrangido, é como se eu invadisse a privacidade deles, em seu banheiro por exemplo.

Há aqueles que contam “causos” de suas vidas, choram, riem, gritam. Esses na maioria das vezes estão acompanhados. “– Olha, o Carlos Alberto é um desgraçado, um ordinário, eu não aguento mais sabe!”

- Bom dia Sr. Carlos Alberto!

Alguns contam seus segredos mais obscenos, suas relações íntimas, assim dizendo. “– Olha cara, a loiraça do escritório de advocacia do 3º andar é uma delícia na cama, faz loucuras, você não pode imaginar.” Inconsequentemente eu imagino, claro.

Existem também, os com problemas de ‘claus’ sei lá o que, que logo que entram respiram fundo, fecham os olhos e começam a contar. “- Calma, uh! 1, 2, 3, 4 ..., tá chegando, uh! Calma!” E logo que chegam ao destino, saem correndo.

Tem aqueles com o celular, muito ignorantes por sinal. “- Alo? Resolveu o problema? Mas que porra, você não serve pra nada mesmo!”

Temos os educados, que só faltam deixar uma gorjeta e a benção de Deus; e os mal-educados, que nem agradecem e ainda olham de cara feia.

Os excitados são os melhores, os meus favoritos. Esses, logo que o elevador começa a andar soltam leves gritinhos. “- Ui! Ta subindo. – Nossa, que friozinho na barriga.” Alias muitos se entregam nessas horas.

Os namoradinhos, compostos pela classe jovem, com hormônios saltitantes, fazem do elevador seu local de... “– Ai amor, aqui não. – Nossa, que delícia. – Olha essa mão boba amor, o moço ta olhando.” E até parece que olhar intimida-os a ponto de parar.

- 6º, 7º e 8º, subindo!

Alguns são espaçosos demais, empurram, se mechem, enfim, incomodam. “– Porra, chega pra lá. – Ai moço, desencosta um pouquinho, ta quente!”

Os esquecidos, que entram sem saber aonde vão; tem sempre uma cara boba, de nordestinos que acabaram de realizar a migração. “– Qual andar? – Não sei. Ah, onde é mesmo? Qual o andar do Dr. Juarez? – 4º senhor.”

Temos as patricinhas, que olham a calça, a blusa, o sapato, a bunda, o decote, as unhas e por último comentam sobre o piloto, no caso eu. “– Reparo amiga? Gatinho!” Um constrangimento aceitável.

Por último, mas não menos importante, temos os passageiros bomba. Esses mesmo, os que não podem ver um local fechado, com pouca ventilação e muitas pessoas que começam a liberar seus gases. A situação é sempre muito inconveniente e nunca revela-se ao certo um culpado. “– Púúúú! Ah, mas ta de sacanagem eim! Quem teve a coragem de soltar um peido no elevador?” Pela minha vasta experiência pude observar que esses são sempre os responsáveis pela bomba, os que questionam primeiro.

Enfim, é um trabalho digno, que exige um conhecimento aprofundado na máquina e um ainda maior, acompanhado de muita paciência, nas pessoas que a utilizam.

- Até amanhã senhor, bom descanso!

Um comentário:

Unknown disse...

guiii,minhaa vidaa..voce eh muito engraçado, MUITOOO MEEESMO! Eu te imagino escrevendo em jornais, naquela coluna de domingo...IUIAUOAUAIOU e minhaa filha vai ter TANTO orgulho do padrinho engenheiro e jornalista dela1 (oo)
eu te amo e sempre vou me orgulhar de vc, por tudo que vc eh!