sábado, 14 de março de 2009

Eu não tinha nada a ver com aquilo


Eu não tinha nada a ver com aquilo. Droga!

Bem, eu sou funcionário da empresa Spartos, uma multinacional que utiliza da reciclagem pra sobreviver. Ultimamente seu crescimento tem sido estrondoso. Eu, como um simples e mero funcionário que sou, fui promovido. Hoje sou Diretor Geral de Finanças Estrangeiras.

Um belo dia em que gozava em minha mesa, no meu magnífico e novo escritório, meu ilustre chefe adentrou. Ilustre, e único, e rico, e insuportável, e dono de toda a rede Spartos. Como de costume não bateu na porta. Enquanto ele gritava e se movimentava freneticamente eu tentava entender tudo que acontecia.

Depois de um breve momento, ele cessou. – Você quer que eu busque um americano no aeroporto pra você? Indaguei, abismado. Ele secamente respondeu que sim. Filho-da... – Você não tem um Office-boy? Ou ainda, um estagiário pra isso?

Eu não tinha nada a ver com aquilo. Droga! E estava eu lá, como um cachorrinho indo buscar seu osso, em direção ao aeroporto. Ele me convenceu o que eu podia ter feito? Veio me dizendo que precisava de alguém responsável, com aparência adequada, bonito, alto, de confiança e terminou dizendo que eu era diretor de Finanças Estrangeiras. Só porque o mané é americano? Porque ele não pediu pra secretária peituda dele?

O avião já havia pousado e eu segurava uma ridícula placa escrita “Spartos”, ou melhor, “sou da Spartos seu branquelo desgraçado”. Depois que toda a tribulação já havia saído algo apareceu ao longe. Era ele, alto, vestido num terno branco, sapatos dourados, uma corrente de $ no pescoço, toca de veludo na cabeça e afro-descendente. Espera ai?! Isso é um empresário ou um cantor de Hip-Hop?

Arrastei o maluco, que chegou dizendo – E ai meu chapa?!, direto para o carro. Esperava não encontrar ninguém conhecido.

- Cadê o meu carro? Desesperadamente, berrei. Roubado! Algo mais pra completar meu pacote diário de desgraça? Acho que não. Procurei então o Marcelo D2 americano e logo o avistei, dando em cima de todas as mulheres que passavam.

- Vamos de taxi! Disse, enfiando ele no primeiro que eu avistei. Mais calmo agora disse ao taxista o caminho mais rápido a seguir e pedi agilidade. Acho que ele não entendeu, errou o caminho duas vezes e andava como uma mula. A minha vontade era enfiar aquele sotaque mineiro dele garganta abaixo. Mas, eu sou um diretor de sucesso de uma multinacional, não me rebaixo a esse ponto. Não posso dizer o mesmo da celebridade ao meu lado que praticamente estrangulou o motorista. Ainda bem que eu o segurei.

Entramos assim num enorme congestionamento, desses típicos da cidade de São Paulo. O taxista levantou e foi esticar as pernas. Eu soava tanto quanto o negão ao meu lado. Ao longe, observei uma tremenda correria e logo o inútil e preguiçoso motorista entrou no carro dizendo: - Arrastão!

O pânico foi geral, ninguém sabia o que fazer. Não tínhamos aonde ir. Enquanto eu enlouquecia o mitidão cantor de Hip-Hop saia do carro super animado. Acho que ele não entendeu o verdadeiro significado da palavra “arrastão”. E lá fora ele gritava: - Eu sempre quis participar de um arrastão. Ele entendeu sim e acho que é o sonho de todos estrangeiros que vem ao Brasil.

Pois então, o deixei aproveitar o momento. Logo que quase tudo já havia sido levado e o americano já estava em orgasmo profundo por realizar seu sonho, voltamos ao caminho em direção à filial da empresa.

Chegando lá, adentrei pelos corredores acompanhado de um... Do americano que praticamente desenvolvia rap’s a cada mesa avistada. Todos me olhavam e comentavam ruidosamente. Que vergonha!

Agora no ultimo andar, já entrando na sala do meu chefe, anunciei que o empresário americano havia chegado. Ele fez uma cara de que não estava entendendo nada. Entraram então o americano e a secretária peituda.

- Sogrão! O americano disse, espontaneamente. O que?! Que absurdo é esse? A secretária percebendo minha enorme cara de dúvida me explicou que o esquisito era o futuro marido da filha do chefe, que pelo jeito tinha uma caidinha por cantores de Hip-Hop. Minha cara de raiva era obvia.

Fui para minha sala, descansar pelo enorme dia de trabalho. De repente uma correria, as sirenes tocaram, era incêndio. E lá vamos nós novamente... Meu Deus e será que esse dia vai acabar?

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